Maria-sem-vergonha

sábado, agosto 21, 2004

kelly revisitada III - estranhamento

Qualquer mudança na nossa vida acarreta uma série de estranhamentos e comparações. Essa passagem abaixo reflete quando mudei de uma escola que estudei 8 anos e fui pra outra fazer o colegial. Mas os sentimentos se repetem de vez em quando pela minha vida afora...

São Paulo, 24 de março de 1993. (14 anos)

“Hoje me bateu um desânimo, um baixo astral. Fiquei triste de uma hora pra outra.
(...)
A Evelize levou as fotos da formatura dela. Ficaram super bonitas e nítidas. E eu lembrei lá no Guima, como era legal, todo mundo me conhecia e eu conhecia todo mundo. Todo mundo me considerava e me achava legal mesmo eu sendo gorda. Isso, eu acho, não tem nada a ver, né?! Bom, e aí, lá no São Judas, todo mundo é estranho, sei lá, eu tenho amizade com o pessoal, mas quando eu vi a Evelize conversando com os meninos, eu fiquei pensando por que elas conseguem fazer amizade e ‘zuar’ junto com eles e eu não.
O único que me cumprimenta quando entra na classe é o Javé, ele é super gente fina. O Carlos, que eu pensei que é legal, agora só fica lá no fundo com um tal de Cristiano, que nunca deveria ter saído lá da frente.
Me senti até desprezada.
Das meninas, a única chatinha é a Evelize, ela só é legal com a gente quando está sozinha. Quando está com alguém, só falta pisar na gente. (...)
Às vezes me sinto triste, e quero ficar quieta, bem quietinha, pra ver se alguém vem perguntar o que eu tenho, como todos faziam lá no Guima. Por outro lado, penso em ser bem zueira e me misturar com o pessoal do fundo pra ver se me enxergam. Mas eu sei que essa ‘alegria’ seria só por fora.
Acho que esse tipo de comparação entre uma escola e outra é normal, mas preferia mil vezes o Guima. Lá eu era notada e todos gostavam de mim, eu tinha liberdade e tudo. Acho que com o tempo passa, e eu vou me familiarizando com todos.(...)”